Um meu cunhado dizia-me que trocava de automovel cada dois anos, so´ agora compreendo, ( e ele nao se importa, sei la´ se nao me importa, tanto se me da´, oxala´ que se ria um pouco lendo isto que eu digo, ele morreu ha´ mais de vinte anos, cheio de rancor e desprezo pela vida). So´agora compreendo o que ele, no fundo, queria dizer: trocava de automovel cada dois anos e tinha inveja dos que trocavam de esposa cada dois anos, nao podia trocar de esposa cada dois anos e julgo que tinha o sonho de trocar de esposa nesse intervalo de tempo, era assim como que uma figura de estilo, do seu estilo de conversaçao tao materialista que nao resistia a trocar de automovel porque nao podia trocar de esposa, por motivos entao insondaveis para mim mas que eu sentia que lhe martelavam o subconsciente, porque de facto nao podia trocar de esposa, aquela santa alma da minha mana, os inconvenientes dos costumes da epoca, um divorcio seria incompativel com o seu lugar de director geral duma empresa super conservadora, o bem estar que gozava, a esposa tudo lhe permitia, as escapadelas para as reunioes com os patroes estrangeiros, as escapadelas para a pesca no Algarve, as escapadelas obrigatorias pelas avarias nocturnas da linha de Vila Franca, aquela esposa tambem nao era de desprezar, tinha uma magnifica casa , uns tapetes persas magnificos , uma cozinheira magnifica, uns azulejos decorando as paredes ultra mgnificos, bombons de chocolate ao almoço e ao jantar, regalados de acepipes, uma vida santa entremeada com as viagens ano sim, ano nao, ao pais dos patroes estrangeiros, da amiga belga e da outra holandesa, impetuosa e ardente, na Alemanha, um pulinho de meia hora por auto-estrada para la´ da Holanda, no intervalo das reunioes com...
Mais uns personagens que descobri. Nao sei se eles gostaram da vida que lhes dei. Talvez.
Eu digo que ninguem inventa personagens. Entre os trilioes de individuos que ja existiram desde que o mundo criou a mulher e o homem, houve de certeza uma ou um igual aos que inventamos.
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