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domingo, 13 de março de 2011

São alguns, não muitos

Tenho passado pelos meus 84 anos sem senti-los, sem revolta, sem preocupação. São alguns, não muitos.Há quem tenha passado muitos menos, 30 ou 40, e se sinta ferido pela sorte, pela vida ou por muita coisa que não sabe explicar. Um dos prazeres que frequento é o gosto de dar, de conceder algo de útil seja a quem for. Porque o faço com um sorriso que em 99,99% dos casos me é retribuido. Mas, não dou nenhum dos 84 nem algum dos primeiros, nem qualquer dos intermédios e muito menos um entre os últimos. Os parvos dirão sobre isto que é um contrasenso, os ignorantes abrir-se-ão em comentários frívolos, outros proferirão ironias sem graça, reveladoras de fraqueza. Ainda não são muitos,estes anos, estou tentando esquece-los, que interessa o número, que interessa a quantidade deles. Como todos os dias aprendo a viver melhor, sim , aprendo a viver melhor do que vivia ontem e do que vivia aos vinte anos, naquela inutilidade da maior parte do tempo que vivia então.Na menor parte desses tempos aprendi muito, o que mais me agradou, e que melhor recordo, foi o que aprendi quando tinha dois, tres ou poucos mais anos de vida. Após esta distância até hoje, a felicidade que sentia com os beijos da minha mãe quando se despedia de mim, na cama, antes de adormecer; o prazer de ver o meu pai, com as suas mãos fortes de marinheiro, imitar um aranhiço que me fazia cócegas, `a mesa, depois do jantar, ou o Vicente revirando as pálpebras dos olhos para, como ele dizia, imitar um fantasma e assustar a nova empregada doméstica da minha mãe. O cardiologista que consulto de 6 em 6 meses, ou que me esqueço de consultar, disse-me no passado julho que eu ainda serei contemplado com mais dezanove ou vinte anos de vida, discuti com ele essa questão de anos de vida, arrasei-o dizendo a coisa simples que mais vale um ano com saude, que vinte com achaques, a precisar de usar fraldas outra vez, dizer baboseiras, não ter forças para levar a colher de sopa à boca, etc.. E que portanto que o que eu queria era que o sr. doutor me informasse quantos tempo ainda terei sorrindo para a vida, para a família, para os filhos netos e bisnetos. Aí ele hesitou e começou com a lenga lenga do costume , que não se pode saber o que nos reserva o dia de amanhã, etc. No final eu respondi-lhe que se não fosse um bocadão mais optimista, perderia um cliente.
A felicidade nada tem a ver com a idade do bilhete de identidade. Tenho esperança, que os meus filhos mais velhos, uma cinquentona linda e um cinquentão inteligentíssiimo, se encontrem comigo quando forem da minha idade(não a do meu BI, informo os que necessitem de explicações). Também é para isso que desejamos, criamos e ajudamos as filhas e os filhos: àlém do prazer de ve-los crescer, da alegria que manifestam descobrindo o mundo em que cairam. Se tenho um neto com catorze anos e mais um palmo de altura do que eu, porque não hei-de acreditar no muito que os filhos , os netos e os bisnetos são capazes? Não temos de nos resignar com a vida que temos, nem pensamos nisso, para quê? só temos de alegrarmo-nos, de sorrir para o futuro, de recordar o bom passado nos momentos em que nos embrenhamos na meditação. Os mal agradecidos, revoltados, rancorosos pela vida que Deus lhes deu, param dentro dessa tristeza, resignam-se voltam-se para a noite mesmo que o dia esteja nascendo. Os que se felicitam pelo que Deus lhes deu,congratulam-se sem lançar foguetes, nem folclórios.
Sorriem. Deus sabe bem o que cada um sente.

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