Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 7 de abril de 2017

       O armazem da memória auxiliava-o.Preenchia os cadernninhos dos exames de frequência com o mesmo frenesi, concentração e aplicação que no ping-pong. Preenchia,nalguns exames, quase todas as folhas daqueles caderninhos de capa azul diziam pelos corredores que aquele ou este professor classificava os exames na proporção do número de folhas escritas, tentava imitar a mãe que usava letras enormes, garrafais, mas a mão falhava voltava sempre às letrinhas escritas como música entre duas linhas nos cadernos da primária . Mas o seu  armazem da memória tinha as prateleiras oblíquas, inclinadas, e os relatos, as fórmulas, os teoremas escorregavam e  amiúde desfaziam-se, evolavam-se no ar, desapareciam no chão, deixavam-se conquistar pelos erros e não pelas páginas brancas dos caderninhos.
      Mas enfim, pelo meio com alguns sucessos, por vezes com alguns truques que todos os estudantes aprendem com maior facilidade que as matérias, temperado pelas férias, bailaricos, namoros desconprometidos, passeatas investigadoras quase nunca sabendo do quê, inconsequente e rara frequência das bibliotecas, foi cumprindo os anos  serenos e os momentos de sobressaltos do curso, alguns de amores inconstantes, outros de amizades crescentes Talvez pela hereditariedade, talvez pelo toque da <mão de Deus>, talvez pela cumplicidade do acaso, começou a desenvolver um parco gosto pelas artes, uma misteriosa propensão para leituras complicadas, compostas de inutilidades, de ridícularias, por vezes até de virtudes escondidas para sempre - um dia comprou um volumoso calhamaço nada mais nada menos que  a "Breve introdução à história da esupidez humana".

Sem comentários:

Enviar um comentário