A universidade ouvia os grandes lá da família dizer, o palácio da ciência, o templo da sabedoria, a mãe de todo o conhecimento. Mas como os grandes da familia, salvo uma excepção, nem sequer tinham posto os pés numa e quase sempre a referiam, naqueles termos, em tom jocoso, desdenhoso, como coisa sem valor. Desde um tio bisavô que fora engenheiro destacado em Évora e um tio médico ainda vivo mas que não exercia a medicina, vivendo dos rendimentos, desde esses mais ninguém da familia frequentara um dos "alfobres da sapiência" ou dos "viveiros de génios.Mas Fernando, sem sentir que estava mergulhando no tal viveiro, agradava-lhe a faculdade, a Tapada da Ajuda, o clima diferente fora da barulheira das ruas de Lisboa, aspirando logo à entrada o vento do nordeste, que envolvia os aromas do arvoredo, da vinha e da horta que ocupavam a tapada, propriedade da faculdade de agronomia.
Poucos dias após a primeira aula de silvicultura, dada por um professor catedrático bem simpático, Azevedo Gomes, soubemos que, por motivos políticos esse professor fora demitido, saneado como então se apelidavam tais demissões. O que de imediato deu origem a um abaixo assinado por todos os colegas de Fernando, assinatura que passados muitos anos valeu a Fernando uma visita dum inspector da PIDE, a já temida polícia política de defesa do estado. Que defendia o estado, pensava Fernando , vá lá saber-se do quê, porque, seguia pensando, não era possivel que um professor como o professor Azevedo Gomes atacasse o estado português. Um professor, que apenas numa aula nos despertou a curiosidade, o interesse e a admiração pela silvicultura, apenas numa lição.
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