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terça-feira, 25 de abril de 2017

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Segunda parte - a viagem

A consciência do casal centrava-se apenas naquele mundo à sua volta. Depois das despedidas no terminal da Rocha do Conde de Óbidos, ainda sem o aguilhão da saudade, sem vislumbrarem a intensidade da ausência posterior, embalados pela perspectiva optimista do futuro, a Tari e o Fernando, debruçando-se na amurada do Uige, acenavam risonhos para os familiares - a mãe dele enxugando uma lágrima e uns primos envergando sorrisos encorajadores.
O navio afastou-se com a lentidão própria do arranque contra a corrente, os últimos acenos, a nova visão de Lisboa desde o meio do Tejo, o rumo obediente do paquete,de proa apontada ao futuro, o mar era o novo futuro, diziam que até à ilha da Madeira a tradição avisava temporal nos dias de viagem, a estranha sensação pelo desconhecido mar alto, tomar as pastilhas contra o enjôo antes de mais nada, a passagem pelo forte do Bugio, a entrada no mar profundo, aquele mar longíquo parente deste que tantas vezes o intrigou quando o avistava da praia, a calma, nada de temporal por enquanto e a chamada para ensaio de naufrágio, envergar os coletes de salvação, conhecer todos os passageiros, alinhados a bombordo do convés do navio, cumprir as
instruções e regressar ao camarote para arrumar os coletes, conhecer os cantos do camarote.
Dois dias e três noites de viagem calma, nada de temporais, apos o jantar até se dançava na pequena
sala de dança do barco, refeiçõoes a contento, na manhã do terceiro dia o Uige encostando ao cais da cidade do Funchal. Cidade bonita, aquela, de casario subindo pela encosta íngreme. E mal aportámos a surpresa dum ramo de flores, dos célebres Anturiuns da ilha da Madeira.

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