Foi em 16 de Julho de 1944.
O pai de Fernando morrera um ano antes, no dia em que chegara à casa dos pais com a boa nova de que tinha feito os exames do sexto ano( correspondente ao décimo de hoje, no liceu) e aprovado. A reacção dos pais foi idêntica, aprovar o ano era uma obrigação, a tosse do pai mobilizava todas as atenções, tosse provocada por aspirar o cheiro do fumo de frituras que a cozinha, com a porta aberta para o quintal, impelia para a casa de jantar, o pai muito congestionado levantando-se da cadeira e sentando-se noutra perto da janela, a tosse continuando, o pai apoiando a cabeça nos braços, estes em cima das costas da cadeira de palhinha, a tosse cessando, a mãe correndo para o pai, o pai imovel na cadeira, Fernando vai chamar o doutor Lopes Teixeira, disse a mãe abraçando o pai e gritando João, João. Correu para o consultório do doutor, doutor venha lá à minha casa, o meu pai está muito mal, o médico calmo, preparando-se para ir, parecia que não ligava nenhuma importância, quando chegaram à casa de j
Quando saíu do colégio, acabado o sétimo ano - hoje o décimo segundo, ao tomar o eléctrico para se dirigir à estação do Cais do Sodré afim de regressar a Portimão, lembrou-se do dia em que entrou no colégio, perturbado, desconfiado, temeroso, levado pelo pai , seis anos antes, ao mesmo tempo que sentia agora um alívio imenso: tinha acabado a prisão que para ele o colégio sempre significara, tinham acabado os toques de caixa, as formaturas, marcar passo por tudo e por nada, marcar passo antes de ir t paantar o pai com as unhas negras, reparou Fernando, enquanto o médico dizia para a mãe dele, nada a fazer minha senhora, os meus pêsames, a mãe gritando, um lenço sustendo as lágrimas.ra qualquer sitio, ao chegar a qualquer sítio, ver-me livre daquele idiota do capitão Casais, aspirar a liberdade, tomar banho todos os dias.(no colégio tínhamos banho duas vezes por semana) - e para o balneário também seguíamos a marchar. Perdoem-lhe, é um desabafo dele que lhe e que o alivia, sentia-se animal livre, aspirando a vida, vivendo a natureza, decidindo por si e de si, o que queria ver, onvir e sentir.
Porém, há que reconhecê-lo, pensava e reconsiderava Fernando anos depois, o grande valor do colégio para quase todos os que o frequentavam, era a esplêndida formação que proporcionava no domínio da cultura geral e da base intelectual para tudo o que necessitavam aprender, base nesse tempo, difícil de obter na maioria dos liceus.
Nesse dia, aliviado, vibrando com a felicidade sentida, começou a apreciar Lisboa.
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