Fernando fez-se erudito e inventou:
- Napoleão conheceu Josefina e casou com ela no dia seguinte...
Manuel Silvestre, que já se interessava pela conversa, atalhou, brincando com o assunto:
-
- Fernando, parece-me que exagerou, Josefina casou-se com Napolão no mesmo dia em que o conheceu...
- Se estivesse agora entre amigos de longa data, eu diria que iria aproveitar a primeira oportunidade para seguir o exemplo de Napoleão..-disse Fernando.Mas
Catarina, implacável:
- Fernando deixe de conversar com os meus pais, a nós que nos diz?
- Digo que vou pensar até amanhã sobre o assunto e assim tenho uma justificação para vos pedir número do vosso telefone e para vos ver outra vez!
Fernando ficou um pouco aturdido pela audácia da resposta que tinha dado. Julia desviara-lhe o raciocínio, perturbara-lhe a razão, reduzira a delicadeza, o cuidado, a cortesia que devia a uma família que conhecera momentos antes e da qual desconhecia tudo. Pensava, ao retomar consciência, que nunca mais iria ver Júlia. Sentia o coração bater célere, procurava com enorme ânsia as palavras que pudessem compor o ramalhete de fraca figura, das palavras impensadas, apressadas que proferira para a família Silvestre. Nestas condições, se não há um aliado amigo, incondicional, que nos auxilie, se estamos sós, se nos sentimos como o aluno que se apresenta a exame sem ter estudado e escuta, desvairado, bloqueado, as sucessivas perguntas do professor sobre a matéria desconhecida, nestas condições, o embaraço é grande e agudo, os gestos e expressão denunciam-nos, tememos que os nossos ouvintes comecem a divertir-se connosco, sentimos que o ridículo nos atinge.
Julia, porem, vendo-o confundido, foi em seu auxílio:
- Não há problema, empreste-me a sua esferográfica, dê-me um papel, pode ser aqui mesmo, neste guardanapo. - E Júlia, depois de escrever o número de telefone, entregou-lhe o guardanapo de papel. E Fernando disse:
- Julia, agradeço-lhe muito...Mas, tambem vivem em Lisboa?
(continua)
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