No regresso a casa, Júlia e Fernando, conversaram, cheios de entusiasmo:
- Bem, acabámos de liquidar cento e cinquenta mil contos do capital da FAP!
- Júli, negociaste bem o preço como o construtor, o homem quase se engasgou quando lhe dissete que pagarias a pronto!
- Fernando, tenho uma ideia para iniciarmos a distribuição.
- Diz, diz..
- Podemos começar por uma rua ou por um bairro dos mais carentes, da cidade.
- Poderíamos começar noutra zona como por exemplo Cacilhas.
- Concordo, realmente talvez seja melhor começar fora de Lisboa.
- Vamos contratar um funcionário, já falámos disso.
- Olha querido, temos de escrever, assentarmos meia dúzia de normas a seguir na distrbuição, uma espécie de código muito simples, não concordas?
- Sim e tu necessitas de um ou uma auxiliar para os teus serviços administrativos, dentro de pouco tempo irás ter muita papelada, fichas, segurança social, etc..
- Vamos publicar um anúncio para a contratação de duas pessoas, temos de principiar as entrevistas na segunda -feira...Temos de pensar no perfil que exigiremos para cada um, nos salários, etc..
- Júlia, qualquer deles deverá ganhar pelo menos cento e cinquenta contos, com um contrato bem definido e exigente.
- Deixa isso comigo. Já pensaste como vamos iniciar a distribuição?
- Júlia, se eu estivesse em apertos, contas por pagar, a família atravessando dificuldades de diversa ordem, o melhor auxílio que desejaria seria uns cobres... Ninguém nos põe limites no que damos, que achas entregar cinquenta mil escudos a cada um?
- Não é muito mas também não é pouco. Como escolheremos os que vamos contemplar?
- Olham pderemos começar numa rua dum bairro modesto de Cacilhas. O funcionário da FAP, levando a cartilha bem estudada, começará no princípio da rua, irá entregando envelopes contendo o dinheiro.
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Iniciávamos a prática duma ideia singular: dar dinheiro, distribui-lo sem nada exigir em troca. A pensar ao contrário do usual, que vale muito mais um pássaro a voar do que dois na mão. Proceder de modo inesperado, por vezes o mais adequado: colocar o carro à frente dos bois e estes em liberdade. Que os bois têem direito a pastar e os pássaros a voar. Nem uns nem outros nascem pobres. Os homens, com frequência, é que os fazem sofrer.
Mas, como encontrar e angariar dinheiro para um investimento tão pesado? Assim dizem alguns : "é preciso ir buscar o dinheiro necessário para investir, onde êle está" ! Está em muitos bancos, os colchões onde os ricos o guardam. Mas não pensemos em qualquer forma violenta para o obter. Encontrámos uma solução, difícil, impossível dirão. Possível se convencermos um governo a apoiá-la. O que só se conseguirá, no presente se garantir dividendos políticos. Ou se um exemplo convencer os agovernantes que esse exemplo deverá ser seguido.
O que deverá tardar muitos anos, talvez séculos. Quando a formação do homem, da sua mentalidade, do seu espírito e da sua consciência atingir patamares muito mais elevados. E atingir toda a humanidade, não apenas grupos ou países privilegiados, acabando com o dinheiro..
A mulher e o homem nascem nús. E morrem como vieram, sem levar mais do que trouxeram. E o que cá fizeram, conhecidos ou ignorados, é que os marcará no futuro.
(continua)
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