Ao chegar à tipografia comunicou ao pai:
- Já sabe aquilo do professor de matemáticas gerais da faculdade de engenharia?
- Não ! O que aconteceu?
- Foi demitido. há um abaixo- assinado com mais de mil assinaturas, pedindo a sua readmissão e entregue na direcção, os jornais já sabem...
- Não vai servir de nada - disse o pai de Carlos - o director deita-o no cesto dos papéis. Mas não sabem porque foi demitido? Se calhar é porque esse professor é doutorado na Rússia e reconhecido como grande matemático, o que li há dias no jormal!
- Pior que isso, pai, foi demitido por ter chumbado o filho do director em dois anos seguidos, alguns colegas que assistiram aos exames contaram-me que nas duas vezes não respondeu sequer a uma pergunta do professor, perguntas de conhecimento obrigatório das matérias dos sexto e sétimo anos do liceu. Não admira que reprovasse.
Entretanto um rapaz aproximou-se do "guichet" da tipografis. Olhou surpreendido para Carlos e exclamou:
- Tu és o colega que levou o abaixo-assinado da engenharia? - e Carlos respondeu:
- Sim. Os meus pais são os donos desta tipografia e eu ajudo-os no que posso. Porque é que cá vens?
- É uma encomenda da associação... Tem de ser para ontem - e dando ao Carlos um papel manuscrito - Faz-me um orçamento para dez mil exemplares.
O pai Azevedo olhou para o colega do filho, parecia-lhe conhecida aquela cara. O modo de se apoiar no "guichet", a forma descontraída de falar, o trajar modesto, a barba incipiente, trouxeram-lhe à lembrança o tempo em que começou a trabalhar. Também êle um dia se apoiara num balcão , para responder a um anúncio duma tipografia. E, dirigindo-se ao estudante, comentou:
- Já temos muito trabalho para ontem...É colega do Carlos?
- Sim, sou, êle também tem de se inscrever na associação da faculdade, há muito trablaho a fazer lá - e Carlos:
- Tenho muito mais a fazer aqui, com toda a gente a pedir trabalhos para ontem!
- Bem, - aninmciou o colega de Carlos - se puderes, aparece na associação amanhã à tarde, depois das aulas, temos uma reunião para preparar as nossas eleições.
- Lá irei, se tiver tempo, depois de fazer aqui o mais urgente, tenho um patrão qiue é muito exigente...
O senhor Azevedo comprara a tipografia à viúva do antigo dono, conseguira um empréstimo do Banco de Portugal, que amortizara em meia duzia de anos. Mais dois ou três anos, comprou máquinas novas, ampliou a casa alugando outra loja. Aumentou a clientela, mercê do atendimento simpático e do trabalho persisente e honesto. Naquela época, tencionando mudar-se para a zona industrial da cidade e induzido pelo entrusiasmo do filho, projectou e começou o negócio duma editora, obtido o alvará necessário.
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