Dizem -me que sempre temos uma sombra. Pois eu quando me apetece, saio de casa e deixo lá ficar a minha sombra. Mas a sombra é preversa, quando chego a casa, a sombra joga às escondidas comigo e nunca a encontro, a não ser nos dias em que está bem disposta e não se quer vingar porque não a levei a passear.
A minha sombra, além de humores variáveis, com o tempo, com as horas, com a crise, ainda tem outras curiosidades: varia na côr, ou antes no tom da côr que sempre apresenta, mas é como os alcatruzes das noras, quando tenho paciência para a levar, anda sempre á minha volta, nunca larga os meus pés, tal como os alcatruzes não largam a roda. A minha sombra é mais leve que um pensamento, mesmo do que o pensamento do suicida quando decide entregar-se ê morte. E ainda tem outra qualidade interessante: adapta-se com facilidade a tudo o que desilumina.
Mas eu há muito que aprendi a dominá-la.
E sempre surgem os curiosos a interrogar-me quando me vêem sem a sombra.
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