Herdei de meus pais uma linda jarra de madeira
Da mesma madeira usada nas guitarras portuguesas
Jarra de dois palmos de altura e boca larga
Relevo aos quadrados, pintados de cima abaixo
Revestido de faiança bem brilhante
Com verdes azuis e encarnados.
Dizia o meu ai Pai que trouxera aquela jarra do oriente
E que o vendedor lhe dissera que continha grandes mistérios
A minha Mãe não acreditava nisso nem noutras bruxarias
E por isso a jarra não era mais que um ornamento
Numa prateleira da sala do piano
Recordada e usada como um simples "bibelot"
Casei.E com os meus vinte e cinco anos
Encontrei uma linda menina
De olhos verdes que me alucinaram.
Com um andar de dançarina de "balet"
Vestindo com elegância, de ar senhoril
Tendo pais simpáticos e quatro irmãos bem vigilantes.
Falei-lhe um dia dos mistérios daquela jarra
Já desaparecida em parte incerta
Certamente levada por algum dos meus irmãos
Disse-lhe que quando eu tinha catorze ou quinze anos
Um dia meti a mão dentro da jarra
Esperando tirar de lá um sonho, um desejo ou um conselho
No entanto, encantrei a jarra cheia de papelinhos
Dobrados como dobram, nas feiras, os papelinhos das rifas
Tirei um e, para grande surpresa minha
Não era uma sina o que lá estava escrito
Nem um número que me hobilitasse a um bom prémio
Mas apenas duas linhas escritas à máquina.
Li-as. E afinal, essas duas linhas
Não me descobriam os meus defeitos ou qualidades
Nada me aconselhavam para os meus passos
Nem adivinhavam nada do que fizera antes
Apenas me diziam, essas duas linhas escritas à máquina
Que um dia encontraria uns olhos verdes alucinantes.
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