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sábado, 7 de abril de 2012

Foolhetim - Sonho de sorte - 78 -

               Laura não hesitou:
                       - Eu nem me lembrei, Carlos, de te falar disto, não porque fosse segredo mas porque normalmente não tocamos nos problemas da minha ocupação na fundação. Todavia, se tens interesse, digo-te que estamos a projedctar grandes iniciativas, conta-lhe Fernando, conta-lhe.
                       - Bem, além da fábrica de produtos alimentares, temos outro objectivo em mente. Consistirá no ensaio duma experiência dum novo tipo de vida. Vamos tentar dentro do grupo dos colaboradores da FAP e dos beneficiados com as ofertas, iniciar, de forma progressiva, um sistema de vida que não necessite de dinheiro. Procuraremos produzir o que seja essencial para a vida dessa comunidade...
                       - Fernando, isso é uma pura utopia!
                       - Carlos, não pretendemos produzir de imediato tudo o que é necessário, nem temos a pretensão de hoje ou amanhã fornecer todos os produtos e serviços que uma comunidade requer, iremos com calma mas em segurança, procurando primeiro garantir o fornecimento do que for mais simples de produzir, ao mesmo tempo que um  centro, dentro da fundação, possa armazenar toda a informação obtida e fornecer de maneira imediata e prática a informação que possui.
                       - Continuo a dizer e pensar que é um projecto irreal, utópico.
                       - Carlos, temos discutido muito sobre utopias, sobre projectos irreais, sobre os impossíveis e tens de concordar que te tens enganado bastante, principalmente no que respeita à FAP - e Carlos, de forma sarcástica, retrucou:
                       - Pois claro, com o auxílio do homenzinho dos sonhos!
                       - Dizias ou não que êsse sonho era impossível? Porque é que agora êste projecto não se pode realizar?
                       - Qual projecto, Fernando? Não ser necessário dinheiro para vivermos?
                       - Sim, sim! Dá-me razões para que seja impossível.
              Carlos soltou uma gargalhada bem sonora que despertou a atenção de vários outros convidades e disse:
                       - Fernandinho, o dinheirinho existe há mais de três mil anos!               
                       - E entendes qaue isso é um argumento válido para que não o possamos eliminar? Porque não passas a viver numa palhota ou numa caverna, como o "homo sapiens" viveu durante dois milhões de anos e ainda alguns vivem hoje? Tudo o que é material um dia desaaparece, o resto, o que não é material, não sabemos se desaparece.
                       - Fernando, não queiras comparar dinhero com palhotas ou cavernas...
                       - Carlos, não me apresentes os teus costumados sofismas. Tu, que conheces e és um estudioso da história, sabes bem, podes dar-nos muitos exemplos, de atitudes, de estilos e formas de vida, de costumes, hábitos usos que perduraram por centenas e alguns até por milhares de anos e que desapareceram em poco tempo logo que a humanidade conheceu e reconheceu a sua inutilidade ou qpós descobrir novas formas de vida ou substitutos à altura que melhorassem a sua existência neste planeta. Alguns morreram na fogueira, outros fuzilaram-nos ou morreram em campos de concentração mas para todos não existiam as palavras utopia ou impossível na classificação das suas ideias.

             O grupo à volta dos dois casais aumentara de forma considerável, seguindo a discussão com interesse crescente. Júlia, sabendo e conhecendo a pouca predilecção do marido por falar ou discutir em público qualquer assunto que estivesse relacionado com a fundação, tentou desviar as atenções noutro sentido:
                         - Bem, meninos, deixem de falar no dinheiro e vão buscar pratos para poderem provar o bacalhau à Gomes de Sá. Aqui  é de borla, não precisam de dinheiro, toda a gente diz que está uma delícia. E esta travessa é a últiima..
                         - Lá vou, lá vou buscar o prato - disse Carlos. Mas Fernando, não ficarias sem resposta se eu não gostasse tanto deste bacalhau.
              O grupo desagregou-se, Fernando ficou aliviado, não era o local mais propício para o assunto da conversa anterior. Agradava-lhe sempre falar com Carlos sobre os projectos, sucessos, dificuldades da sua vida e dos problemas e realizações da fundação. Por isso, ao fim dessa tarde, depois de todos os convidados, excepto Laura e Carlos, se despedirem, Júlia disse aos amigos:
                         - Temos ainda, pelo relógio biológico da Carolina, meia hora antes da sua mamada. Carlos, podemos continuar a conversa que eu interropi.
                         - Eu percebi a tua boa intenção quando cortaste a nossa discussão. Realmente o tema era muito interessante, posso saber mais dessa vossa ideias de não usarmos dinheiro? Responde Fernando, eras tu que estavas a tentar convencer-me.
(continua)


                        

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