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domingo, 29 de abril de 2012

Folhetim Sonho de sorte - 100 -

                                                           XLIII
               O assessor de Presidente da República, o doutor Morgado, num dos primeiros dias de Outubro, enviou um convite à direcção da FAP para uma audiência com o senhor presidente.
               Foram recebidos no dia e hora marcados. De início a conversa decorreu de acordo com as formalidades usuais. Pelas respostas que o presidente obtinha dos directores da fundação e que o elucidavam sobre tudo o que que ali se efectuava, a entrevista ficou mais calorosa, cada nova pergunta de sua excelência revelando um interesse crescente. No tocante aos objectivos, projectos e sua execução, tudo foi explanado sem reticências por parte de Júlia e Fernando.
             Quando a entrevista se prolongava para além da meia hora prevista, o presidente ainda perguntou:
                       - O menistério dos assuntos internos tem conhecimento da fundação e de toda a vossa actividade?
                       - Um director de serviços dêsse ministério visitou-nos , como resultado dum convite nosso. Até esta data, senhor preisdente, não tivemos notícia nem recebemos qualquer ofício do ministério nem daquele senhor que nos visitou. Demos respostas a tudo o que nos perguntou - e Júlia continuou - e supomos que nada dissemos que o melindrasse, o nosso interesse sempre tem sido o de estabelecer as melhores e mais cordiais relações com o governo. A pergunta de vossa excelência faz-nos crer que talvez exista algum mal entendido. Vamos escrever ao ministério convidando-os para nova visita ou sugerindo a nossa presença para desfazer quaisquer dúvidas ou equívocos e dar conta das nossas realizações.
            O Presidente, em jeito de despedida, levantou-se, dizendo:
                      - Façam isso, não se esqueçam.
                      - Muito agradecemos o seu convite, senhor presidente, e todas as suas boas sugestões.
            No regresso Fernando, referindo-se ao encontro :
                      - Desta fez não usámos o gravador, o que não seria delicado e elegante, tratando-se do presidente. Serás capaz Júlia, de reproduzir tudo o que dissemos e tudo o que ouvimos?
                      - Conheces a minha boa memoria para as conversas, sejam as de amigos, sejam as de serviço. Assim que cheguemos à FAP, irei ditar à Mariana tudo o que se disse na reunão com o presidente, dentre de uma hora temos tudo escrito.
                       - Reparaste que o presidente tinha uma informação muito detalhada sobre a FAP, nada mais do que aquilo que dissemos ao Morgado?
                       - Sim. E também reparei no interesse crescente que manifestou pela FAP no decorrer da conversa. Como é o partido dêle que está no poder, a FAP talvez possa beneficiar algo com esta entrevista. Penso que a maneira como êle reagiu e respondeu à nossa sugestão de que o governo comece por nos apoiar com um milhão de contos. Lembras-te que, sem pestanejar nos respondeu "talvez seja possível"?
                       - Não tenhas grandes esperanças.
                       - Não tenho, nem precisamos de contar com isso, felizmente. Mas, porque lhe falámos das nossas boas disponibilidades financeiras, é provável que deseje que o governo faça um brilharete, ajudando-nos e, ao mesmo tempo, atenuando as críticas sobre outros auxílios a outras fundações, menos justificáveis e com resultados menos visíveis. Outro assunto: Fernando, há quase um mês que não temos nenhum prémio, nenhuma receita importante, o nosso anjo da sorte abandonou-nos?
                       - Julgo que não. O problema foi que durante êste mês nada nos poderia sair porque, como sabes, não jogámos nem comprámos lotarias. Talvez pela ocupação intensa que temos tido, talvez por sabermos que o estado das finanças da FAP é saudável, a verdade é que me esqueci por completo de participar em qualquer jôgo. Outro dia tu e a Laura disseram-nos que temos reservas suficientes para mais um ano. O ideal, no entanto, será ampliar êsse saldo e não constatar que diminui. O que poderia contribuir para que sentíssemos o que nunca sentimos na FAP,  "stress" pelas preocupações financeiras.
                       - Então será bom conservarmos e não ampliar á média da despesa. Ainda que surjam mais alguns prémios deveremos ponderar e analisar bem, tudo o que está feito e, se necessário, reorganizarmos o que necessitar de afinação.

                      
                                                                                  
                                                                    XLIV


             Dois jornalistas solicitaram uma entrevista á direcção da FAP. Laura recebeu-os. Quando soube qe estavam interessados na central de méritos pediu-lhes que aguardassem um pouco no gabinete onde se encontravam e foi avisar Fernando. Êste, perguntou aos jornalistas:
                      - Suponho que é a primeira vez que o jornal onde trabalham nos entrevista?
                      - Sim, engenheiro Garcia, o nosso director por várias ocasiões nos falou dêste trabalho. Entretanto, dois congressos e algumas exposições têem-nos ocupado até hoje - disse António Lourenço, um dos jornalistas do diário da capital com maior número de leitores.
                      - Espero que também se interessem por tudo  o que esta fundação desempenha. Não podemos falar-vos na central de méritos sem vos dar uma ideia geral do que é e o que representa esta fundação.
             Fernando, após o resumo breve que sempre relatava a quem visitava a FAP pela primeira vez, encaminhou os jornalistas para a sala das reuniões, onde Maria dos Anjos os esperava, com o gravador e o bloco preparados.
                      - Decerto está acostumados à gravcação das vossas entevistas, é uma garantia de fidelidade do que depois dizemos e escrevemos. Temos um arquivo, já considerável das entrevistas que damos para o exterior. Comecemos com as vossas perguntas.
             O jornalista mais nôvo, o José Amaral, disse:
                      - A central de méritos, pelo que nos referiu, é a base do sistema de pagamentos e recebimentos que aqui iniciaram. Não sera mais prático usarem o dinheiro?
                      - As razões que nos levaram, nesta experiência, a adoptar êste sistema usando a central de méritos e não o dinheiro ou o sistema dos cartões de crédito, foram várias. Destaco as principais: evita o dinheiro e os cartões de crédito, evita dívidas, pode evitar roubos a quem paga e a quem recebe, simplifica o controle dos pagamentos. Além doutras vantagens: não existe nem é necessário o transporte de moedas ou de notas, não há interferências bancárias, nem outros problemas.
                      - O objectivo - perguntou António Louernço - é acabar com o dinheiro? Os economistas consideram isso possível?
                      - Não consideram, acham isso impossível, mesmo os mais considerados acham isso uma fantasia, sem admitir discussão, embora sempre apregoem que vivemos em democracia. Mas o nosso objectivo, para já, não é o de acabar com o dinheiro, com a circulação e o uso do dinheiro para as transações de bens e de serviços. A moeda apareceu há cêrca de cinco mil anos, duma forma rudimentar mas sendo, de imediato, empregue como hoje, isto é, como um instrumento de troca que tem a confiança de quem o aceita. Não. O que pretendemos de momento é estabelecer de forma experimental, um sistema diferente para as nossas trocas, um sistema mais seguro e menos inconveniente que o sistema que utiliza o dinheiro ou os cartões de crédito. Se um ladrão roubar a central de créditos que está naquela dependência ao lado do nosso restaurante, o que é que rouba? Rouba um arquivo, nada que lhe seja útil, não rouba umas dezenas ou centenas de contos duma caixa do multibanco ou dum cofre.
                       - A central de méritos será, de certeza um máquina cara, não?
                       - Claro que foi, ainda não é produzida em massa. Mas é mais barata que uma caixa do muitibanco ou que o cofre dum banco.
                       - Mas acham que é possível adoptar êsse sistema na nossa sociedade?
                       - Os senhores jornalistas sabem quanto tempo demorou  a humanidade a chegar ao actual sistema do uso de moedas e de notas? Foram milhares de anos. Não poderíamos ter a pretensão ou vaidade de querer implantar êste sistema em pouco tempo, sem dificuldades, sem vencer muitas resistências, sem muitos inimigos. Não. Estamos simplesmente iniciando uma experiência que poderá ou não ser um sucesso. O que vos digo é que, até agora essa experiência, ainda com poucos dias de vida, não tem sido um fracasso. Que tem despertado muita curiosidade, felizmente.
                       - Onde descobriram essa central de méritos?
                       - A ideia resultou do que vimos no comércio de Xangai onde já adoptaram o uso de leitores de impressões digitais, substituindo o uso dos cartões de crédito, o que eu e a minha espôsa verificámos pessoalmente quando ali fomos há pouco tempo. Ao vermos que isso funciona muito bem naquele comércio, pensei que a central que recebe no banco de Xangai  todos os dados poderia também arquivá-los, receber e dar outras informações,  através duma tecnologia semelhante à que empregamos  cá para os cartões de crédito. Foi só pedir o que queríamos a um fabricante de caixas multibanco que nos fabricasse uma máquina com as mesmas funções que um leitor de impressões digitais, com o arquivo das contas particulares e, passado um mês tínhamos aqui a nossa central de méritos.
                       - E registaram a patente?
                       - Temos um acordo nesse sentido, com a fábrica, em relação ao que acrescentámos às funções dos leitores de impressões digitais.
(continua)




(continua)                             

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