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sábado, 28 de abril de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 99 -

                 Laura, que adorava a polémica, interrompeu Fernando:
                          - Parece-me que estás a misturar tudo.  Cá temos o velho assunto que tanto aprecias, Fernando, o de não considerarmos, nós os economistas, todas as variáveis e por isso raramente saímos de impasses como êsses que referes. Para mim, o problema é outro, como noutras vezes argumentei. Todavia tu e a Júlia têem razão se dizem que os responsáveis  muitas vezes não consideram algumas variáveis conhecidas e eu acrescento: quase sempre o fazem de propósito, porque só assim seguem a política do chefe, só assim conseguem camuflar os problemas verdadeiros e convencer o pagode que tudo corre às mil maravilhas. As culpas aqui morrem solteiras, algum governante  foi condenado pelas asneiras de consequências nefastas para o país, para todos os seus habitantes? Manuel Guedes, que opinas, como economista que és?
               Manuel Giedes nunca fugia às perguntas e respondeu:
                          - Até aqui vocês não me perturbaram nem o apetite nem a boa disposição. Estão falando do desemprego mas eu acho que devemos é falar do emprego. O que primeiro quero dizer é que não é por se falar ou especular muito sobre o desemprego que êste diminui, que se cria emprego. Os empregos na actividade particular, surgem por iniciativa dos empresários, como conseqência da sua criatividade, do seu esfôrço, do seu interesse,  da sua dedicação pelo investimento. No Estado - que emprega pouco mais de dez por cento dos trabalhadores - uma grande fatia do emprego deriva em geral da política vigente. Aquelas qualidades que um empresário demonstra e utiliza para criar emprego, não existem se reinar a apatia, a indiferença, o marasmo. Que factores induzem à criatividade, cocorrem e provocam a iniciativa? O que é que a apatia e a indiferença não criam nem provocam? - Manuel Guedes engoliu a´última colherada de pudim e concluiu: O que induz e provoca tudo istó é a amabição e o conhecimento.
                          - Correcto, Manuel!
                          - Sem ambição ficamos sentados. Quem se empregar sem conhecer as coisas do mundo, sem cultura, sem ciência, só consegue salários mínimos e  nos empregos que poucos querem. Até os génios, para sair da mediocridade, necessitaram de formação e do ensino.
                          - Parece-me que estou vendo onde queres chegar...
                          - Laura, o que se impõe começar quanto antes é a instrução, a educação, a difusão decente de conhecimenos.
                          - Decente?
                          - Não ser indecente, desonesto, inapreciável, indecoroso, como é agora. Desonesto porque pouco ensina, inapreciável porque é insignificante, indecoroso porque muitas vezes é uma escola que ensina o que não deve ensinar. É insignificante porque muito pouco ou nada ensina a pensar, pouco despeertando nos miúdos, nos alunos o gosto por desvendar e aprender, não respeitando o direito à fantasia e sem conseguir a disciplina através do interesse e da curiosidade. Esta existe desde que um bébé abre os olhos ou talvez mesmo antes, pouco sabemos sobre isso, talvez mesmo ainda na barriga da mãe, antes de nascer... Bem, parece-me que as nossas ocupações não dos deixam ficar mais tempo - disse o Manuel Guedes, levantando-se e deixando a mesa.
                          - Deveríamos organizar um congresso ou pelo menos uma reunião de gente que goste de pensar, começando por êste tema - foi dizendo Júlia enquanto se encaminhavam para os gabinetes.
                          - È uma excelente ideia a propôr ao presidente da câmara que visitámos, vamos pòr isso no papel - disse Fernando ao entrar no seu escritório.


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               De Pitágoras quase todos lembramos o seu teorema. Êle deixou-nos muito mais. Por exemplo deixou-nos esta frase: "eduquemos  as crianças para não termos de castigar os homens".
(continua)     

 
                             

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