O homem que chegara ao 185, voltou-se e expressou-se, com ar melancólico:
- Que deseja?
- Senhor Custódio, chamo-me João Pedro, tenho que lhe entregar uma oferta. Antes preciso de confirmar as informações que me deram a seu respeito, fazendo-lhe algumas perguntas.
- Uma oferta? O que é que quer saber?- perguntou Custódio, paciente e resignado.
- O senhor Custódio está reformado?
- Sim, sim, com uma grande reforma...
- Posso saber quanto recebe ao fim do mês?
- Pouco e a minha mulher, nada.
- Pode dizer-me quanto recebe? - insistiu João Pedro.
- Trinta e oito mil escudos e olhe, faça-me um favòr, diga lá a quem o mandou que no mês passado tive que me remediar com trinta, depois de pagar os remédios para a minha velha...
Teminando o preenchimento duma ficha, João declarou:
- Aqui tem neste envelope a oferta de que lhe falei.
Custódio abriu o envelope, extraíu lá de dentro as cinco notas de dez mil escudos, franziu a testa manifestando uma expressão de incredulidade e gritou para dentro de casa:
- Maria! Chega aqui à porta!
Apareceu uma mulher ajeitando o cabelo muito branco que lhe caíra para a testa em duas madeixas. Ao ver as notas que o marido lhe mostrava, indagou com ar desconfiado:
- Onde é que arranjaste êsse dinheiro, Custódio?
- Foi êste senhor que nos trouxe...Não sei donde...Senhor João Pedro quem é que me mandou esta oferta? O que é que tenho de fazer?
- Nada, senhor Custódio, nada tem de fazer...E para o mês que vem cá me terá
para lhe entregar um envelope com o mesmo recheio. Mas há duas condições.
- Já me parecia isto muito esquisito....- Referiu a mulher ainda mais desconfiada.
- Não há problema senhora Maria. As condições que pomos para aparecermos daqui a um mês são estas: primeira, não falar disto a ninguém e segunda, se algum dia puderem, deem uma ajuda a quem vejam muito necessitado. Mas não se esqueçam de que se faltarem à primeira condição, não voltaremos à sua casa. E adeus senhora Maria e senhor Custódio, até ao mês que vem.
João Pedro afastou-se, o casal ainda murmurando algumas palavras de agradecimento e entreolhando-se, abismados.
No regresso a Lisboa, Fernando perguntou:
- Então senhor João Pedro, que ohe pareceu este trabalho?
- Engenheiro Garcia, se fôr sempre assim, é muito fácil!
- Sim, sim. Mas o que mais nos interessa, o que mais interessa à FAP, para além do trabalho de encontrar as pessoas a quem entegar as ofertas, para além disso interessa-nos saber o que pensa desta sua colaboração, o que sentiu durante a entrega e depois de entregar os envelopes, o que mais necessita, como poderá melhorar o diálogo com as pessoas escolhidas. Vamos fazer o seguinte: odeio a burocracia, a papelada excessiva, porém teremos de escrever pequenos relatórios após cada oferta e discutir depois a forma de melhorar as contactos e as entregas.
Era hora do almoço. Júlia, que conduzia o carro, parou no estacionamento dum pequeno restaurante, em Algés, dizendo:
- Para hoje, se não têem denhum compromisso, almoçamos aqui, comemoraremos o início da actividade da FAP.
- Espero - disse Fernando - que dentro de pouco tempo a FAP tenha o seu restaurante, não concordas Júlia?
- Boa ideia! Fernando, a FAP poderia comprar o andar por cima do escritório...Mas senhor João Pedro, conte as suas impressões sobre o trabalho que fez de manhã.
- Senhora doutora Júlia, gostei do que fiz, gostei de entregar as ofertas, de ver como as aceitavam, eu próprio, confesso queme senti um pouco engasgado ao ver como reagia a senhora Maria Augusta, eu nunca tinha oferecido tanto dinheiro!
- Ainda há de oferecer muito mais - disse Fernando, acrescentando - qiuantos envelopes pensa que poderá entregar numa manhã, num dia?
- Não sei bem, engenheiro Garcia, talvez cinco a dez, o problema poderá ser o de levar tanto dinheiro no carro...Poderíamos entregar cheques...
- Já pensei nisso. O senão é que através dos cheques a FAP dentro de pouco tempo fica a ser conhecida e nós deveríamos encontrar um forma de manter o anonimato...Para já vamos, tanto quanto possível, proceder como hoje, acho que o nosso anjo da guarda protegerá o trabalho dos colegas distribuidores, não concordas Júlia?
- Claro que concordo. Entretanto há que pensar no transporte dos nossos colaboradores. Devemos entrevistar muito mais gente. Mariana, compre hoje ainda, a publicação de um anúncio em dois ou três jornais. Terei de entrevistar muito mais gente para que, dentro de poucos dias, contratemos mais dez distribuidores, pelo menos.
(continua)
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