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quinta-feira, 1 de março de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 47

             No número oitenta e dois daquela rua havia uma casa estreita, de dois pisos, pintura degradada nas paredes exteriores, portas e janelas em ruina. João Pedro bateu com os nós dos dedos na porta do rés do chão. Uma mulher aparentando cinquenta anos, cabelo farto, grisalho e muito bem recolhido num rôlo atráz da cabeça, vestindo com modéstia uma saia castanha e camisa branca, de mangas arregaçadas, feições ainda bonitas, agradáveis, abriu a porta acompanhada de uma miúda dos seus seis ou oito anos e manifestou-se:
                   -Boa tarde, o que qerem os senhores? - E João Pedro:
                   - A senhora chama-se Maria Augusta dos Santos?
                   - Sim, o que desejam?
                   - A senhora vive sózinha com esta menina, que deve ser sua filha?
                   - Sim, eu sou viúva, vivo só com esta minha filha.
                   - A senhora não trabalha, está desempregada?
                   - Fui despedida há dois meses daquela fábrica aqui de Almada, fechou, nem me pagaram! Os senhores trazem o dinheiro dos dois meses que não me pagaram? Olhe que eu tenho mais dois rapazes gémeos, com dez anos! Não estão aqui, ainda não chegaram da escola...
                   - Mas a família do seu marido não a ajuda? - perguntou João Pedro.
                   - Esses vivem lá para o Norte, ainda são mais pobres do que eu, nem se lembram que eu e os meus filhos existimos...
                   - Olhe minha senhora - disse João Pedro exibindo o envelope - tem aqui uma ajuda para si e para os seus filhos. Pode abri-lo, abra-o!
            Maria Augusto recebeu e abriu o envelope, deparando com as cinco notas de dez mil escudos. Depois de alguns momentos de estupefacção, disse:
                   - Mas o que é que eu tenho de fazer para receber este dinheiro, quem
é que me dá este denheiro?
                   - Quem lho dá - respondeu João Peddro - é uma fundação.  Até arranjar tarabalho irá receber todos os meses essa quantia. Mas com duas condições: não falar dsto a ninguém, a ninguém, nem mesmo aos seus filhos. Segunda condição: quando puder e se puder, ajude quem esteja muito necessitado de ajuda. Não se esqueça, não apareço mais na sua casa se faltar a estas promessas.
           Maria Augusta, ainda olhando para para as notas, balbuciou uns "muito obrigado" e "não me esqueço, não me esqueço" enquanto João Pedro acrescentava:
                   - Tem aí no envelope ium papelinho com as duas condições...E, até para o mês que vem, senhora Maria Augusta!

           João Pedro voltou para junto de Júlia e Fernando, que se haviam afastado e o esperavam, a  poucos passos.
                    - Foi muito bem, senhor João Pedro, foi muito bem! Agora só falta acabar de prencher a ficha numa ou dias linhas de relatório, uma ou dias linhas, não mais. Temos ainda tempo para irmos à outra casa.
           Continuaram a subir pela rua, procurando a porta cujo número 185 havia indicado o cliente do café como da casa onde vivia um casal, marido e mulher ambos com sessenta e cinco anos, vivendo na pobreza da magra reforma do marido. Pouco antes de chegar ao número indicado, Júlia entregou outro envelope ao João Pedro, dizendo-lhe:
                     - Avance para o seguinte contemplado...Espere! - disse Júlia ao ver que um homem os ultrapassava e metia a chave na fechadura da porta 185 e entrava na casa - deve ser este o nosso segundo contemplado! Avance João Pedro! - E este chamou: 
                      - Senhor Custódio, senhor Custódio!
(continua)          

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