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quinta-feira, 8 de março de 2012

Folhetim- Sonho de sorte - 54

                                                                      XX
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                     É natural que muitos dos que consigam ler este livro, economistas ou não, poíticos ou não, fundamentalistas ou não, ponham algumas, se não muitas, reticências,no que aqui se mencionou. Em particular,no que reporta aos muitos milhões de contos que pareem surgir com tanta facilidade como surge a poeira que uma brisa ligeira levanta na estrada.É uma prerrogativa de quem escreve: tornar milionários os seus personagens, da noite para o dia.

                     De interesse conhecer um dos diálogos travados entre os directores da FAP e o casal amigo, os Azevedo. Encontraram-se no meio-dia e meia hora dum domingo de abril, num restaurante da baixa lisboeta. Continuaram a troca de impressões que haviam iniciado no dia anterior:
                                - Fernando, Júlia, o que me contaram sobre os milhões que vão enchendo os cofres da vossa fundação, ultrapassa tudo o que se possa inaginar!
                                - Carlos, tens que abrir a cabeça para novas possibilidades, aceitar e discutir novas ideias. Eu, na economia, já me convenci de muita coisa diferente daquilo que nos ensinaram na faculdade, como verdades irredutíveis. E também sem ser na economia! Mas para começar vamos falar dos milhões, da fortuna, da riqueza.
                                - Começa então pela riqueza - e Júlia continuou:
                                - Ensinaram-nos na universidade os inúmeros conceitos de riqueza que diversos e ilustres pensadores definiram. Um desses conceitos é que a riqueza se pode medir pela quntidade de dinheiro acumulado, conceito que sabemos,é relativo. Depende do país que o põe em circulação, da inflação nesse país, do seu poder aquisitivo. Sabes que eu penso que se pode aplicar a fórmula descoberta por Einstein, a da relatividade, à riqueza? Não estudamos isso pois não?
                                 -.Já agora explica - pediu Carlos.
                                 - Vê se não pode ser assim: a riqueza é igual à quantidade de dinheiro - o M da fórmula de Einstein - multiplicada  por uma constante ao quadrado, constante com valores numa tabela com aquelas variáveis.
                                 - Júlia, volta ao assunto da riquezaa real - atalhou Fernando
                                 - Volto. Se a riqueza se mede pela quantidade de dinheiro que temos, e esta pela saldo da tua conta bancária, pode ser uma riqueza ilusória. A conta pode estar errada, podes dever mais do que tens disponível na conta, podes pensar num dia que estás rico porque a tua conta tem sete algarismos e no dia seguinte o banco falir ou fôr nacionalizado., a tua conta congelada, como aconteceu há poucos anos na Argentina. Havia gente com milhões na conta bancária e que andava quase a pedir esmola. Portanto a riqueza deve e tem de se medir pelo valor dos bens materiais que possuis, por outros factores e não apenas pelos números da tua conta bancária.
                  E Júlia continuou de maneira serena:
                                 - Em conclusão: após êstes três meses da fundação, a grande riqueza que eu e o Fernando ganhámos e que está aumentando dia a dia, que já não diminuirá, que nada nem ninguém nos pode tirar, não é nenhuma das riquezas de que tomámos conhecimento na universidade. É uma riqueza sentimental, de amor, de afectos, de caridade. E de felicidade!
                                 - Ora, ora! Como podes incluir a riqueza sentimental na riqueza de que estamos falando, no conjunto de bens materiais? - disse Carlos.
                                 - Porque essa, a dos bens materiais é, na prática, a única definição de riqueza que nos ensinaram! - e Júlia conrinuou, incisiva - Nada mais interessa? Quando referes que um certo  indivíduo é pobre de espírito ou que é rico de imaginação, de criatividade, não estás referindo que a êsse indivíduo lhe falta ou lhe abunda um certo tipo de riqueza?
                                  - Sim, digamos riqueza espiritual - disse Carlos.
                                  - Esquece por uns momentos, o dinheiro, os móveis, as joias. Não crês que a madre Teresa de Calcutá era, no seu tempo, das mulheres mais ricas do mundo? Pensas que ela seria mais feliz se tivesse um Rolls-Royce, uma otomana Luis XIV, um diamante de quatro quilates, uma conta bancária de sete algarismos?
(continua)

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