- Fiquei muito bem impressionado com o que vi e em particular porque não me pareceu que os vossos colaboradores, a quem julgo que designam por distribuidores, tivessam sido avisados da nossa visita. Explicaram-me a proveniência das vossas receitas e o projecto do primeiro investimento para o futuro. Tenho mais duas perguntas: se a curto prazo os prémios e os ganhos cessarem como poderão continuar? Como suportarão as despesas mensais actuais?
Júlia, sem hesitar, respondeu:
- Senhor assessor, será pouco provável que a curto prazo cessem todas as nossas receitas. Mesmo nesse caso, pouco provável, mesmo nesse caso, as nossas reservas actuais permitirão a manutenção da nossa actividade durante mais treze ou catorze meses.
- E depois? - insistiu o assessor.
- Depois, o investimento que temos em curso e os que iremos lançar dentro em breve, trar-nos-ão ainda mais tranquilidade. O que pedimos e pediremos sempre, é a vossa influência, o vosso auxílio no combate à burocracia que nos está dificultando o cumprimento dos nossos objectivos.
E Júlia acrescentou:
- No "ecran" à vossa frente têem um gráfico que representa a evolução das receitas até ao presente e das despesas, com provisões até daqui a dois anos, Tem cópias na pasta que lhe demos. A doutora Laura está apresentando noutro gráfico, a evolução que prevemos para as receitas mas só as receitas provenientes dos lucros que estimamos para os nossos investimentos.
O assessor, observando os gráficos, disse:
- Contem-me agora dessa vossa fábrica de produtos alimentares, têem aparecido tantas notícias contraditórias!
Fernando tomou a palavra e respondeu:
- Senhor assessor José Queiroz, temos previsto o investiimento de um milhão de contos até ao dim deste ano, na fábrica e na investigação ligada ao fabrico de produtos alumentares. Esperamos que se inicie a laboração no dia 2 de Janeiro do próximo ano e que as primeiras vendas se efectuem de imediato. Para o que estão contratados dois investigadores e três técnicos.
- Mas,senhores directores, a indústria alimentar - disse o assessor relaceando um olhar sobre todos os presentes - está altamente deseenvolvida nos países mais industrializados do mundo, pertencendo a empresas com enormes possibilidades de recursos financeiros aplicadas na investigação, como será possível que uma fábrica no nosso país consiga competir?
- O que nós importamos fabricado pormuitas dessa empresas contrbui para o "deficit" dabalança comercial do nosso país - e Júlia fez um sinal a Laura, que mudou o "slide" - veja como têem evoluido as importações dalguns desses produtos, referimos alguns dos mais conhecidos, alguns dos mais importados. São indústrias que, nas próximas crises financeiras é provável que terão dificuldades, falências. Os governos desses países decerto que as auxiliarão, não quererão suportar o aumento enorme do desemprego que tais falências provocarão. Não pretendo entrar na futurologia. Mas êsses auxílos, que poderão ser mais ditados pelos interesses políticosque pelos interesses reais do país, terão um limite. Se a crise fôr muito grande êsse limite será ultrapassado, as finanças desses países entrarão em crise de efeitos ainda mais devastadores. As causass principais dessa falências são o proteccionismo e a fraca evolução dessas indústrias.
- Êste novo vosso investimentorepresenta uma evolução? - inquiriu o assessor.
Júlia olhou para Fernando e êste respondeu:
- O que a indústria alimentar tem avançado no domínio de alguns produtos foi, em nossa opinião, muito pouco.Ainda não apareceu em Portugal uma indústria que competisse, por exemplo,com a Nestlé. Os produtos fundamentais para a alimentação pouco têem evoluido em cem anos. Sabemos que a investigação de alguns desses produtos e as aplicações das suas descobertas estão travadas, suspensas e escondidas. É aí que iremos entrar. Os japoneses, dantes eram conhecidos porque só exportavam carros de brinquedo, de lata e hoje são dos maiores e melhores produtores de muitos outros artigos. Nós, em Portugal, também poderemos inovar, produzir, até exportar, se diminuir a burocracia e desaparecerem os condicionamentos a que a nossa indústria tem estado submetida. Se os chineses vão produzindo cada dia mais e melhores produtos, diversificando mais e maisa as suas indústrias e ampliando mais e mais as suas exportações, nós, em Portugal também teremos de ampliar a nossa indústria, de nos tornarmoscompetitivos para que a nossa idústria não continue a sofrer maiores perdas como as sofridas na indústria textil. Não nos podemos resignar, temos capacidade, temos gente que se quer formar, que pretende inovar e criar.
- Ainda outro ponto, desculpe insistir nas minhas dúvidas,. Que mercado irão conseguir para os vossos produtos, vencerão a concorrência?
- Foi uma das nossas primeiras preocupações. Para nossa grande surpresa uma sondagem na semana passada, revelou-nos que noventa e seis por cento dos inquiridos tempreferência pela compra de produtos portugueses, se os produtos tiverem a mesma ou melhor qualidade que os importados, se forem mais baratos. Penso que o mercado está garantido, em particular se conseguirmos vender esses produtos com preços competitivos. Aproveito para lhe pedir que transmita ao senhor presidente o nosso convite para a inauguração desta fábrica, convite que igualmente lhe fazemos a si e a todos os assessores da presidência da república , convites que em tempo oportuno enviaremos.
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