XVIII
A actividade dos colaboradores da FAP prosseguiu. Júlia continuou com as entrevistas e em poucos dias mais quatro homens e seis mulheres distribuiam envelopes levando a muitas famílias auxílio inesperado. Júlia e Fernando, muito ocupados com os problemas que continuamente se levantavem na campanha, terminaram as férias. Convocaram todo o pessoal que trabalhava na fundação para uma reunião. Fernando foi o primeiro a pronunciar-se:
- Numa semana a FAP distribuiu envelopes com ofertas a muitas dezenas de pessoas necessitadas. Em mais três ou quatro semanas esperamos fazera a distribuição com o auxílio de cêrca de cinquenta colaboradores.
Fernando e Júlia preencheram mais uma hora da reunião estabelecendo e definindo funções para alguns dos presentes e regras para futuros grupos de trabalho.
Regressando a casa, Júlia anunciou:
- Fernando, querido, daqui a três dias teremos de voltar à fábrica, acabaram-se as férias!
- Queres voltar ou estás com vontade de não voltar?
- Queres a verdade - Júlia acrescentou, reticente - "só a verdade, nada mais que a verdade?".
- Diz-me se me ames ou outra verdade mais verdadeira!
- A mais verdadeira é que te amo...
- Tens outra verdade menos verdadeira?
- Tão verdadeira, de boa fé e de acordo com a realidade..."Em verdade te digo" que me sentirei mais feliz se continuar com a felicidade que estou sentindo com o que faço, com o que fazemos na fundação...
- Já tenho uma cúmplice, já posso despedir-me da fábrica.Se me amas como dizes que me amas ou seja, com toda a alma, pede ao director...Não, exige ao director e senhor dono da fábrica que contrate outro engenheiro.
- Fernando, estás brincando...
- Não estou, não.
- Ou estás propondo-me que fujamos?
- Júlia, nem penses, perdeste o respeito ao nosso homenzinho do sonho? Até poderia ser uma boa ideia, se fosse para fundarmos outra FAP !
- Querido, que faremos? Em tão poucos dias tantos acontecimentos agradáveis nas nossas vidas, que nos trouxeram a nós e a todos os outros na FAP tanto contentamento, tantas alegrias!
- Estamos aprendendo a lidar com êstes nossos novos destinos!
- Se é que são novos.l.
- Mas são pelo menos muito diferentes dos que conhecíamos...
- Dos a que estávamos habituados, Fernando.
- Ou do que nos habituaram e dentro do possível, Júlia.
- Mas Fernando, o que é possível? É só o que poderá acontecer? O que não pode acontecer acontece tantas vezes...
- Júlia é a tal história da regra sem excepção...Qual é a excepção à regra de que não há regra sem excepção?
- Não sei, o que me parece é que o que se passa connosco é uma excepção como regra...
- Portanto, Júlia, estamos convencidos que, para nós, há uma regra, a regra de que esta sorte é permanente, que esta sorte é normal no nossa vida. Que, tal como os passos que damos, não damos por êles, aquilo a que se chama sorte é permanente, que esta sorte é tão normal passar por nós como é normal passar por nós a brisa que nos bafeja, sem darmos por ela, sem lhe ligar importância maior que a uma pedra da calçada.
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário