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segunda-feira, 5 de março de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 51

                            - A excepção será não termos sorte no que tentemos.
                            - Júlia, estamos a ir conra tudo o que nos demonstrou a vida!
                            - Na vida que aprendemos, na vida que descobrimos, na vida que nos ensinaram a descobrir. E a outra, a que irá ser descoberta num século futuro, com  outras bases que alarguem e expandam o conhecimento das coisas, que abram muitas portas do universo e que se mantêem fechadas.
                            - Se calhar, bastando por vezes apenas um sonho...
                            - Fernando, passamos na vida ao lado de muitas portas, que não abrimos porque não as enxergamos ou porque não temos fé.
                            - Ou porque abrimos alguma e temos medo de entrar.
                            - Por medo, por preguiça, por comodidade.
                            - Ou talvez quase sempre pela inércia que nos atira para esta forma de viver e que resulta do pouco que aprendemos, dos hábitos em que nos enfronhámos, dos contumes a que obedecemos.
                            - E que nos privam de muita liberdade, Fernando.

                Chegaram a casa e encontraram os filhos ainda agarrados aos livros, finalizando as tarefas que os professores exigiam. Depois do jantar, seguindo o costume de ocuparem uma hora em conversa amena, Júlia propôs:
                             - Se não há assunto urgente, proponho trocar convosco opiniões sobre o que eu e o par falámos quando viemos para casa. É o seguinte: o que será que aprenderemos no futuro, não me refiro a daqui a dois ou três anos mas daqui a dez ou doze séculos, o que constará dos programas de ensino, o que interessará mais aprender?
                 Francisco como era seu hábito, pretendeu começar com humor:
                              - Mãe, se calhar, nesse século trinta ou quarenta, os filhos é que dizem aos pais qual o assunto a falar depois do jantar -  e o António ajudou:
                              - Pai, vamos supor que estamos agora no século trinta. O tema que propomos para eata noite é o do aumento da nossa mesada.
                              - Olha - respondeu Fernando - o mais natural será que nêsse século os filhos já não terão mesadas.
                              - Mas então o que terão?
                              - Nêsse século será mais provável não existir dinheiro, julgo que os homens e as mulheres não necessitarão de dinheiro e é provável que a nossa era seja conhecida como a idade do dinheiro.
                              - Mas pai, como compraremos o que precisaremos para casa?
                              - Poderá ser de forma muito diversa da actual. Os homens e as mulheres, antes de existir dinheiro, trocavam bens, toma lá carne, dá-me farinha, toma la isto que eu tenho a mais, dá-me tu o que tu tens a mais e que eu necessito. Ou então, o mais forte roubava ao mais fraco, o que de uma ou outra forma ainda acontece, Depois, talvez há uns três ou quatro mil anos, inventaram o dinheiro, mantendo-se o sistema de trocas em algumas comunidades até aos nossos dias. Outro sistema aparecerá, não seráo necessários outros três ou quatro mil anos para que a humanidade descubra algo de melhor.
                               - E que poderá ser o quê, pai?
                               - Olha António, poderá ser outro sistema de trocas que se baseie por exemplo no mérito de cada indivíduo. Tal com hoje existem máquinas que te fornecem dinheiro, se a tua conta bancária tiver saldo suficiente. Talvez no futuro, se quizeres comprar uma camisa, porás a tua mão na máquina e esta informará o vendedor que tens uma conta de méritos com saldo suficiente para que possa entregar-te a camisa que desejas.
                                - Pai, pai! Tenho uma conta de méritos suficiente para poder ir amanhã ao cinema?
                                - Francisco, vejo que percebeste o futuro sistema - comentou Júlia.
(continua)    

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