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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 131 -

                                                                      LXVII


                  Uma regra fora imposta no conselho de ministros: todos os temas, decisões, que implicassem represálias, retaliações, não constariam nas actas do dia, seriam considerados secretos e confidenciais. Qualquer notícia nos "media" sofreria de imediato um desmentido, de forma sumária, sem alarido, fechando a informação sem mais comentários.
                 O ministro do interior fora incumbido de exercer pressões e ameaças à FAP, dentro do objectivo de diminuição até à cessação, da influência e actividade da fundação, o que se iniciara com as fiscalizações. Exigiu resultados às direcções gerais implicadas, impondo compromissos em reuniões urgentes. Ficou no entanto muito desagradado quando as notícias que recebia de hora a hora lhe anunciavam que existia uma resistência crescente, empalidecendo efeito surpresa, ao mesmo tempo que as autarquias locais revelavam apoios inesperados à FAP. Chamou à pedra dois directores gerais da sua tutela e falou com outros ministros que participavam na manobra, procurando reunir forças e descobrir outros processos de ataque.
                No entanto a resistência aumentava, mais se revelando quando se soube que falhara a fiscalização à fábrica dos veículos eléctricos e que nos pontos de venda deparavam com obstáculos intranponíveis. De nada serviram as multas aplicadas, os fiscais encontravam sempre um ou mais advogados representando a FAP, que invocavam diversos artigos da lei e demoravam a passagem dos avisos e notificações com extensos argumentos, impondo o testemunho de muitos colaboradores e exigindo a elaboração de relatórios pormenorizados sobre cada inspecção efectuada.

                Júlia tinha a convicção de que se tratava de uma intervenção de natureza política, doutra forma não se expliccria a acção concertada que ameaçava a exlstência da FAP. Pelo que decidiu, de acordo com a direcção, comunicar pelo telefone aos jormaais, estações de rádio e de televisão, o que acontecia desde o princípio do dia. Pela internet enviou emails para todos os colaboradores, beneficiados e habittantes cujos endereços de correio electrónico constassem dos arquivos da fundação.Não caíu no êrro de convocar ou induzir qualquer manifestação, limitando-se a comunicar o que acontecia.
               No dia seguinte àquele em que a fiscalização selara a fábrica de pão, o contencioso da FAP foi convocado para uma reunião com a direcção.
                              - Doutor Manuel Macedo, conhece bem o que se passa. Que podemos fazer para contrariar a companha que nos estão movendo, campanha orquestrada sem que qualquer dos ministros dê a cara e nos acuse ou ataque? A fábrica de pão está selada, que poderemos fazer, que solução nos dá para tentar inverter esta situação?
                             - Eu e o meu colega conseguimos ontem suster a passagem de multas, o fecho e a selagem de portas dos pontos de venda, da fábrica de texteis e do restaurante. No entanto teremos de recorrer de imediato aos tribunais.
                             - Que medidas podemos tomar, doutor, medidas de efeitos imediatos, em particular permitindo a reabertura da fábrica de pão?
                             - Preparei um requerimento solicitando uma providência cautelar que irei apresntar ainda hoje no tribunal de Almada.
                             - Terá efeito rápido?
                             - Esperamos que sim. A providência cautelar implica uma apreciação sumãria através dum procedimento simplificado e tem por finalidade evitar lesões graves ou danos aos que a asolicitam. Se conseguirmos conjugar esta medida com alguns protestos populares, é provável que se obtrenham resultados a curto prazo. Aconselho entretanto algum cuidado, não será conveniente distribuir comunicados ou quaisquer panfletos convocando ou incitando manifestações de rua.

                 Manuel Macedo, o advogado que se dedicava a tempo interito ao contencioso da FAP, fora contratado poucos dias após a inauguração da fundação. Iniciara a vida profissional num dos maiores escritórios de advogados da capital. A intensa prática nos tribunais e a aplicação cuidada que dedicou às causa que lhe foram entregues, granjeou-lhe uma fama de vencedor e uma notoriedade projetada para fora do escritório. Júlia e Fernando conheceram-no quando defendeu com sucesso uma causa contra o proprietário da fábrica onde antes trabalhavam. Ainda não completara então trinta anos, era casado, pai de dois filhos. Destacava-se pelo farto bigode em contraste com a cara branca, bem escanhoada. Vestia sempre calças e casacos de cores claras e gravata azul escuro, dentro e fora dos tribunais.
                Em conversa amena, num dia em que almoçaram juntos, Fernando convidara-o para elaborar os estatutos da FAP e ocupar-se da direcção do contencioso  da fundação.
                            - O vosso convite vem mesmo em boa altura, estou de saída do escritório onde tenho trabalhado. Antes de discutir o seu convite quero que saibam porque deixo aqquele escritório.
                            - Doutor Macedo conhecemos o seu "curriculum"!
                            - Não se trata disso. Não tenham quaisquer dúvidas, saio por minha iniciativa, porque não me agrada continuar. Resumindo, não gosto de defender certos tipo de causas.
                           - Mas como sabe que na FAP não encontrará processos que não lhe agradem?
                           - Tenho informações sobre os objectivos que norteiam a vossa actividade. Parece-me admirável a vossa obra. Troquei algumas impressões com vários dos vossos  colaboradores, tenho reflectido sobre tudo isto. A minha esposa ajudou-me a decidir. Também é advogada, trabalhou comigo naquele escritório, foi a primeira de nós a sair, pelas mesmas razões que conduziram á minha decisão.
(continua)                                                          

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