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terça-feira, 29 de maio de 2012

Folhetim - Sonho de sorte - 129 -

             Ao meio dia, o Matos terminou a pesquisa. Até aí muito circunspecto, falando sério e cauteloso, quando parecia ir-se despedir disse, para nossa surpresa:
                    - Senhor Gabriel, meu major, não se lembra de mim? Em Angola estive sob o seu comando, no Zala!
                    - Bem me parecia que conhecia a sua cara. Mas olhe que eu subi de categoria, sou mecãnico chefe!
                    - O que lhe digo é que o pessoa daqui o aprecia tanto ou mais que nós, lá na tropa, Tem aqui um bom emprego. Não está reformado?
                    - Estou, estou. Isso não me impede de fazer aqui o que mais gosto. Neste momento êste oficial reformado ordena-lhe que aceitem almoçar connosco, terão ocasião de conhecer mais coisas boas desta fundação. Não considerem o convite uma tentativa de influenciar os vossos relatórios, o inspector lembra-se de mim em Angola, sabe que nunca fui desse género. Lembra-se daquele caso com um outro major, caso em que eu consegui que o prendessem por andar a enganar os morenos, vendendo-lhes armas inutilizadas?
                    - Cada vez me lembro mais de si, agora que fala dos morenos, sempre que falávamos dum preto o senhor corrigia-nos dizendo "preto não! Moreno!".
                    - Lembra-se como eu explicava a diferença? - perguntou Gabriel.
                    - Parece-me que a explicava dizendo que o senhor quando era novo, no fim do verão ficava mais escuro que um preto da Guiné que o seu pai trouxera para Portugal.
                    - É isso mesmo! Em Angola, os baillundos são muito claros, são castanho claros. Quando me viam sem a farda, perguntaram-me várias vezes se eu era bailundo, em particular se eu andava com o chapéu de praia enfiado na cabeça, não viam se eu tinha ou não tinha carapinha...

               No fim do almoço, após as despedidas, Júlia, encontrando Gabriel:
                     - Gabriel, que tal decorreu a inspecção?
                     - Muito bem. Foram muito correctos. Aconteceu que , no fim da visita à fábrica, antes de os convidar para almoçar, o Matos reconheceu-me, eu era o oficial que comandava a unidade militar onde ele estava incorporado em Angola. A inspecção terminou em beleza, aceitaram o convite para o almoço, recordámos episódios de África, fiquei com mais dois amigos.
                      - E na contabilidade, correu tudo bem?
                      - Sim, bem. O contabilista fez muitas perguntas, tirou muitas fotocópias, não fez qualqiuer reparo. A Maria dos Anjos e as outras raparigas da secretaria, bem usaram das suas manhas para sacarem nabos da púcara mas não estavam a tratar com uma púcara nem com um nabo, mas com um baú bem fechado, inviolável. Do Matos, conseguiste algo, conseguiste saber donde partiu a ordem para a inspecção?
                      - Nem tentei, nem tive oportunidade. Mas o Matos convidou-me para almoçar no sábado, disse-me que a mulher faz umas lulas recheadas melhores que as de hoje aqui no restaurante da FAP.






                                                                           LXV


            O ministro interpelou o secretário de Estado dos assuntos internos:
                         - Vamos assestar baterias contra aquela fundação, a FAPl Conheces a informação da judiciária? Pelos vistos o inspector que lá foi parece ser muito amiguinho dos directores.
                         - É o que me dizem.
                         - Não devemos proceder de forma mais radical? Alguns autarcas da margem sul, militantes do nosso partido, estiveram falando comigo relatando-me com bastantes pormenores o que se passa naquela zona. Resumindo, é notável e preocupante a influência da fundação na opinião da população local e temo que outra força politica nos ultrapasse nas próximas eleições. A fundação vai iniciar dentro de pouco tempo a sua actividade noutros concelhos vizinhos e no norte do país. Vè se consegues mais notícias sobre essa FAP.
              Aquele subsecretário, homem de confiança do ministro, a êste não ocultava o que tivesse algum interesse, não atenuava ou disfarçava as más notícias, nem concedia relevo exgerado às boas:
                          - Soube que se estão organizando, cada dia que passa, com maior aderência, com mais entusiasmo.
              O ministro, político experiente, muito seguro, pragmárico, com sentido agudo para resolver e actuar, retorquiu com rispidez:
                          - O que dizes é muito vago. Em que sentido é que se estão organizando?
                          - Estão discutindo assuntos que interessam às comunidades e às autarquias, pelo sistema de pirâmide. Pouco mais...
                          - Isso quer dizer que estão a um passo de se imiscuir na política e a meio de concorrerem às eleições. Ai, ai! Não me cheira nada bem, procura obter mais notícias. Vamos levar  o assunto ao primeiro ministro, deverá querer reagir!

              De forma simple e natural, em muitas das reuniões que se realizavam no feim de cada semana, com frequência eram propostos assuntos paras discussão, cuja conclusão interssava a todos os colaboradores e beneficiados da FAP. Laura, dada a ameaça da nacionalização e do que representaria para todos, no final dessa semana disse aos colegas da direcção:
                         - Tenho lido as actas de todas as reuniões, Têem surgido, fora dos assuntos normais, propostas que me parecem muito boas, aproveitáveis, reflectindo um interesse extra pela FAP e pela comunidade, que não deve ser desprezado, não podemos ficar indiferentes, merecem mais atenção da nossa parte. Eu e a Júlia combinámos discuti-las ainda hoje.
                         - Refere, relata essas propostas - pediu Fernando.
                         - Passo a apresentá-las: primeira, o auxílio na reabilitação dalgumas casas de colaboradores e de beneficiados. Segunda: a construção e organização duma bibioteca enquadrada num centro de atracção e reuniâo para todos os que se inscreverem como associados. Terceira: uma escola, começando pelo ensino primário, para continuar no futuro com um liceu. Finalizando por hoje, a proposta mais difícil de concretizar. o projecto para um hospital. Êste poderá ser antecipado por um posto clínico.
                        - Prevês ou imaginas como reagirão os autarcas?
                        - O presidente da autarquia tem acompanhado as nossas iniciativas, a câmara não nos tem dificultado a vida nem com burocracia, nem com a demora na aprovação dos projectos e licenciamento das obras. Pelo que me têem dito, reconhecem quanto as realizações da FAP valorizaram a política local e a autarquia. A dinâmica que adquirimos demonstrou-lhes que a fundação continua e continuará a engrandecer a cidade, dotando-a de unidades industriais e comerciais que estão contribuindo para melhorar  a vida dos cidadãos.
                 Júlia, seguindo Laura, acrescentou:
                         - Demonstrámos até hoje que nenhum projecto nos assusta, não desistimos de nenhuma obra depois de tomada a decisão de a executarmos. Se todos concordam passaremos na próxima semana à execução de mais projectos aprovados. Hoje decidiremos por onde começar. As zonas do comércio e da indúsria estão lançadas, iremos ter uma zona escolar, uma zona de cultura e uma zona de saúde. O primeiro passo, proponho que seja o de apresentarmos à autarquia uma moção preparada por todos ñós, expondo o que nos propomos projectar e executar. solicitando-lhes aprovação e apoio.
                 Aprovada a proposta, Fernando desenrolou sobre a mesa da sala um mapa da região, fixou-o na parede e delimitou com uma circunferência uma zona que coloriu de  vermelho:
                         - A autarquia possui êste terreno nas proximidades do mar, com revestimento floorestal, delimitada  neste mapa e que colori de vermelho.. Êste terreno tem área suficiente para todos os empreendimentos que foram propostos, existe água e  electricidade nas proximidade e acessos que permitem o estabelecimento fácil das infraestruturas necessárias. O nosso colaborador arquitecto Mateus Ribeiro prometeu-me para terça-feira o ante-projecto a apresentar aos autarcas.
(continua)  

































































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