LII
Num dos primeiros dias do último ano do século, conforme prometera, apresentei-me na FAP. O recepcionista avisou-me qu Júlia me esperava no seu gabinete. Depois de nos saudarmos, Júlia disse-me:
- Sei que só aceitará prestar-nos a sua colaboração se não lhe exigirmos qualquer contrato. Não há problema, não lho exigiremos. Poranto fica combinado entre nós.
- Ou entre mim e a fundação, como entender melhor.
- Entre nós e entre si e a fundação,tem de ser. Nas condições monetárias que falámos e sem prazos. Com inteira disponibilidade de consulta, de visita e de informação que desejar.
- Concordo, doutora Júlia. Diligenciarei para entregar o original tão breve como me seja possível.
Fernando, que entretato aparecera, participou-me:
- Vou para a nossa nova fábrica, a das viaturas eléctricas, se tem interesse em visitá-la, venha comigo!
Despedi-me da doutora Júlia e aceitei o convite do marido:
- Quando vinha para cá o nosso comum amigo Gabriel gabou muito essa nova fábrica, vinha decidido a visitá-la logo que fosse possíel.
- Óptimo - disse Fernando - vamos então para lá.
A fábrica fora construida num terreno que a autarquia de Almada vendera à FAP, terreno contíguo aos das outras fábricas que que a fundação ali erigira, dos têxteis, confecções, pão e massas alimentares. Ali também se situava, noutro edifício um pouco menor, o centro de investigações da FAP. Entrámos primeiro neste centro. Fernando referiu:
- Os nossos três investigadores, com os seus auxiliares, têem feito pesquisas para todas as indústrias que temos em laboração. Registámos algumas patentes que proporcionam bons dividendos para o centro. Na actualidade a investigação está dirigida para as baterias ultramodernas com base nas "fulleronas", moléculas de carbono com propriedades excepcionais para o armazenamento de electricidade. Estamos investigando nesse domínio por acordo contratual, de parceria com uma grande empresa francesa. Dentro desse contrato adquiriremos dentro em breve um conjunto valioso de equipamentos que, esperamos, nos permitam ohter resultados importantes, finalizando numa bateria que, com menor peso e volume semelhante, permita armazenar dez vezes a quantidade de energia que uma bateria normal de automóvel armazena. Com seis baterias dessas, um carro médio poderá ter uma autonomia de seiscentos a oitocentos quilómetros! Até poderemos ter pequenos aviões a electricidade.
Conheci depois os investigadors e os seus auxiliares. Todos me falaram com grande entusiasmo na colaboração que prestavam à fundação. O único senão, residia no que suspeitavam por parte dos franceses, porque eles estariam mais avançados na mesma investigação e que esta vem sofrendo uma travagem. A indústria automóvel está desde há algum tempo pouco interessada em viaturas eléctricas. pelos problemas que poderá trazer para essa indústria, porquanto desaparecem as embraiagens, caixas de velocidades, motores de arranque, motores de combustão, nos autos eléctricos.
Porém, o progresso será inevitável. Aliás, americanos, japoneses e outros, estão investigando no mesmo sentido, em particular os japoneses que, como nós, têem de importar todo o petróleo que necessitam. E vão entrando a sério nas energias alternativas.
Seguimos depois para a fábrica de viaturas eléctricas. Fernando encaminhou-me para um carro no fim da linha de montagem:
- Êste é o primeiro automóvel eléctrico que irá sair da nossa fábrica, dentro da primeira fase de fabrico de viaturas eléctricas, fase em que só faremos a adaptação de automóveis usados, com idade até dez anos de livrete e condições obrigatórias. Que não tenham sofrido acidentes donde ressultem deformações da estrutura principal dos carros. Temos encomendas - Fernando continuou explicando - para a fábrica não parar dirante três meses. O custo das adaptações, se não aplicarmos mais acessórios, variará entre os cinco mil e os dez mil contos. Êste auto ao nosso lado, que ficará pronto após a pintura, terá um custo de adaptação, com lucro bruto incluido, de sete mil e seiscentos contos.
- Engenheiro Garcia não me tinha dito que não existiriam lucros?
- O lucro bruto que estabelecemos, vinte por cento sobre toda a despesa, destina-se a amortizações, contribuições para novos investimentos e imprevistos. Não se destina a qualquer accionista ou fonte de capital. Quando tivermos feito umas três ou quatro dezenas de adaptações poderemos defenir bem todas as percentagens que entrarão no cálvulo dos custos. Mesmo assim, nesta fase do fabrico, cada carro que adquirimos ou que nos trazem para a adptação, é diferente do anterior na marca, estado de conservação, idade indicada no livrete e outros pormenores, porque se trata de adaptações de carros usados.
- Quando poderão passar à segunda fase?
- Ainda não sabemos, espero que dentro de poucos meses. No gabinete onde estamos entrando, o nosso arquitecto Gonçalo Assis, que aqui lhe apresento, tem o figurino pronto do que irá ser a "carrosserie" no nosso FAP1, talvez assim o chamemos, se o arquitecto não desejar pôr-lhe outro nome. O "chassis", inspirado no do carro que ali vimos, está encomendado e sendo fabricado numa empresa metalo-mecênica do norte de Portugal. Os outros componentes do FAP1, motores, baterias, etc., estão chegando desde há poucos dias.
(continua)
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