Embora dentro da minha arte tenha recusado alguns compromissos, não posso negar quesenti um certo ougulho com a proposta da FAP.
Habituamo-nos, com o acumular dos anos na idade, a ir esquecendo ou diminuindo a intensidade de certos prazeres que a juventude do físico e do cérebro nos deu, resignamo-nos por vezes ao seu completo desaparecimento. Compensamos essas peredas ainda que por vezes com muita saudade, através de outras pequenas satisfações, mais passivas em relação´físico ou mais activas relativamente ao espírito. Como saber e gostar de apreciar uma pintura, uma esultura, um bom texto literário, saber observar o comportamento, a condição humana e sentir o prazer de conseguir expressar tudo isso nalgumas palavras escritas ou ditas.
Concluindo, resolvi aceitar a proposta da direcção da FAP, com a única diferença, em relação ào que me fora proposto pela doutora Laura, de que não aceitaria assinar qualquer contrato.
Às seis e um quarto chegou o Gabriel, não resisti a dizer-lhe:
- Não és pontual à chegada, como revolucionãrio és pontualíssimo à saida.
- Só falta dizeres, menino, que não trago o macaco sujo, como se prezavam todos os operários do teu tempo. Não imaginas o que vai lá por aquela nova fábrica, a das viaturas eléctricas.
- Conta, conta! Também me interesso pelas tuas actividades mais prosaicas...
- Olha, se continuas dizendo que és um defensor do ambiente, deverias conhecer a fábrica de viaturas eléctricas da FAP.
- Porquê, aproveitam muito ferro velho?
- Sim, denro de pouco tempo vamos ultrapassar essa fase, temos acabado o projecto da "carrosserie" para uma viatura quase totalmente construida em Portugal. Só os motores
e as baterias virão de França.
- Porque não fabricar os motores e as baterias em Portugal?
- Os novos motores e baterias de alto rendimento e alta capacidade, têem patentes registadas no estrangeiro. Ainda que o centro de investigações da FAP esteja também dedicado às baterias, os investigadores disseram-me que será difícil,. dentro de pouco tempo, melhorar, nesse campo, a tecnologia actual.
- Diz-me, aceitaste escrever o livro?
- Ainda não Gabriel, amanhã dar-lhes-ei a resposta, ao meio dia e meia hora.
- Já te decidiste?
- Já!
- Mago das letras, estás muito reticente! Desembucha, satisfaz a minha curiosidade infantil e perversa.
- Aceitei escrever o livro, nas não assino qualquer contrato.
- E pensas que eles vão nisso? Demais a mais devem pagar-te bem...
- Não sei se bem, se mal, pagam-me agora quinhenbtos contos, outros quinhentos quando o livro for posto nas bancas para venda e ainda me entregam metade do valor das vendas que a FAP receber da editora.
- Com tudo isso não queres contrato?
- Não faço contratos com ninguém Ou confiam em mim ou nada. Sempre sem contrato.
- Nem sequer um prazo?
- Isso ainda menos. Mas, pelo que conheço da FAP, penso que posso escrever o livro dentro duns seis a oito meses, se breve descobrir uma boa ideia para que o livro seja vendável, de interesse para muita gente. Que não seja considerado um mero opúsculo de propaganda da FAP.
- Achas isso possível num livro editado com o patrocínio da fundação?
- Veremos, Gabriel. Por agora, o facto do livro não ser gratuito e ser posto à venda com um preço semelhante ao de qualquer livro médio, mais a ideia que eu aplicar para o escrever, são factores que poderáo contribuir para o êxito. Tenho que escolher bem a personalidade de quem vai escrever e assinar o prefácio e fazer uma apresentação condigna. Veremos o que irá resultar de tudo isto.
O Gabriel, pouco amigo de elogio barato ou hipócrita, comentou:
- Ou será um sucesso ou um desastre, no meio termo não ficará.
- Concordo. Dado que não estou pressionado, nem tenho motivos para qualquer tipo de "stress", penso da mesma maneira.
LI
Fora enviado para a presidência da república, satisfazendo um seu pedido, um volumoso "dossier" que descrvia, em folhas A4 e diversas fotografias e quadros, os objectivos, as realizações e a actividade da FAP na época. Um mês depois a direcção recebeu uma carta assinada pelo secretário da presidência, comunicando que o senhor Presidente da República analisara os documentos
recebidos e que convocava a direcção para um encontro, no palácio, na última terça-feira de Novembro.
Júlia, brandindo a carta da presidência, entrou no gabinete do marido:
- Leste a carta da presidência da república?
- Ia mesmo agora falar-te nisso. Vamos tentar que o presidente nos visite.
(continua)
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