LXV
O ofensiva contra a FAP intensificara-se de forma concertada por vários ministérios e bem encoberta, sem publicidade nos "media", sem ordens de serviço internas on circulares comprometedoras.
A actividade em todas as fábricas sofreu interrupções frequentes na semana seguinte, numa acção quase simultânea. O fabrico de pão foi interrompido ainda era madrugada, com a chegada da inspecção dos produtos alimentares. Um pequeno pormenor, um saco de farinha encontrado aberto por um dos inspectores, motivou a passagem de um auto de proibição de laboração da fábrica e a selagem das portas de entrada, às oito horas da manã dessa terça-feira. O gerente da fábrica, protestou com veemência junto dos inspectores enquando os acompanhava após o fecho das portas. Os protestos foram inúteis e os inspectores imperturbados, regressaram a Lisboa, sem responder nem sequer se despedindo. Às nove horas, muitas dezenas de clientes aguardavam impacientes a reabertura da fábrica e o início da venda de pão.
À mesma hora outros dois inspectores entraram na fábrica dos automóveis eléctricos,. Porém aí, dois seguranças barraram-lhes a entrada até à chegada de Gabriel, que entretanto fora informado pelo gerente da fábrica do pão, do que se passara. Lentamente examinou a identificação dos dois iinspectores e avisou-os:
- É norma desta fábrica não permitir a entrada seja de quem fôr, na zona de fabrico. Os senhores trazem uma ordem de inspeecção mas não podemos permitir que a iniciem sem uma declaração de responsabilidade que assinarão no escritório antes do começo do vosso trabalho - disse Gabriel, guardando os cartões de identidade num bolso.
- Uma declaração de responsabilidade? - exclamou um dos inspectores.
- Meus senhores, em todas as nossas fábricas e pontos de venda, exigimos uma declaração semelhante. Façam o favor de a ler e assinar, não é mais que uma segurança para vós e para nós, nem imaginão a quantidade de acidentes que aqui podem ocorrer...Se me permitem, num minuto, vou atender esta chamada.
Era Fernando quem chamava. Com a voz um pouco alterada, alertou:
- Gabriel, dois inspectores fecharam a fábrica de pão, selando as portas. Do teu escritório telefonaram-me, sei que outros inspectores estáo aí, procura demorá-los e entretê-los o mais possível.
- Sim senhor director, vou tratar desse assunto - e pousando o telefone disse para os inspectores - os senhores terão de aguardar até às seis da tarde, hora a que interromperemos os trabalhos.
O mais velho dos inspectores, de forma um tanto irritada e alteando a voz:
- Já lhe apresentámos as nossas identificações temos de iniciar a inspecção desta fábrica!
- Pelas normas rígidas que aqui somos obrigados a cumprir, não é possível a vossa entrada antes do fim da tarde. Durante o trabalho, para segurança das visitas, não permitimos a entrada nas linhas de produção. Trabalhamos em dois turnos, a actividade dos nossos colaboradores só cessará às dezoito horas. Portanto adiarão a cossa inspecção para uma hora a combinar antes das oito da manhã ou depois das dezoito horas de hoje. Ah! Quando vierem, deverão trazer uma intimação que especifique a natureza da inspecção a efectuar.
LXVI
Regressei do Algarve, no hotel disseram-me que um telefonema da FAP me deixara a notícia de que todos os directores haviam saido para o exterior.
Durantoe os últimos meses utilizara o comboio nas minhas deslocações a Lisboa. Com saudade de conduzir pela estrada, talvez porque nas últimas vindas à capital sentira o incómodo dos transportes públlicos, nessa viagem utilizei o meio de tranporte mais cansativo, menos seguro e menos económico, o automóvel.
Deixei a maleta no hotel, fui para a FAP. Sendo horas do almoço, entrei no refeitório esperando encontrar algum dos meus amigos. Informaram-me que todos estavam em Almada aceitando um convite do presidnte da câmara, para almoçar.
Sentia-se no restaurante um ambiente bastante tenso. O silêncio era quase total, ouviam-se os talheres, os líquidos a encher os copos, poucas frases ou risos. Os que entravam, antes de se dirigir ao balcão do "self-service", paravam à porta, admirados e surpreendidos pelo silêncio inusitado.
Perante o meu ar de admiração, a secretária da direcção relatou-me de seeguida o que se passara nessa manhã. Não quis aprofundar o assunto. No passsado, poucas palavras para além dos normais "bom dia" ou "boa tarde" havia trocado com ela. Apenas lhe disse - "se não se importa, depois falaremos mais" - e terminei o almoço um pouco embaraçado, o que me acontece quando estou à mesa com outra pessoa e decido não conversar.
Quando saí para o corredor, deparei com Júlia, Laura e Fernando, que regressavam de Almada.
- Sabe o que se está passando? Hoje tem material para mais um capítulo palpitante do seu livro.
- Sei o que me contou a vossa secretária Maria dos Anjos sobre as inspecções, O silêncio no refeitório faz-me suspeitar que o problema é sério.
- Falámos aos autarcas sobre as fiscalizações, em particular sobre as tentativas para nacionalizar e acabar com a FAP. Manifestaram inocência e discordância com o que se passava prometendo averiguar a proveniência e as intenções dos ministérios envolvidos. Durante o almoçpo referimos as consequências para os autaraquias, em particular para os cidadãos aqui vivendo. Sugerimos que a autarquia convidasse o primeiro ministro e todo o seu gabinete para uma visita à obra da fundação.
- Fernando, no vosso lugar insistiria com os jormais e televisões.
(continua)
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