LXI
No dia seguinte era grande a azáfama na fundação. As duas fotocopiadoras da administração não paravam, formara-se uma fila enorme de colaboradores aguardando a entrega de panfletos, surgiam outros transportando os que provinham das administrações das fábricas. Às onze horas toda a gente fôra para a rua, distribuindo os prospectos. Estes, em pooucas linhas,anunciavam em letras gordas e de forma resumida, o que é a FAP e lembravam,noutras tantas linhas, o que a FAP representava. Outros carros da FAP deixaram panfletos nas recepções dos ministérios, da assembleia da república, em todos os organismos do Estado, em todas as sedes dos jormnais e revistas por onde passavam.
Júlia e Fernando regressaram à FAP às quatro da tarde.
- Estou esfomeada e com certeza tu também, não almoçãmos!
- Voltamos ao tempo do nosso namoro, lembras-te quando distribuíamos propaganda política?
Saíram da viatura, regressando do Campo Pequeno onde, durante uma hora, tinham espalhado folhetos.
- Fernando, reparaste nas reacções dos que liam o que escrevemos, reparaste?
- Reparei! E a polícia não deu sinal, vamos ver se não houve problemas noutras áreas de Lisboa.
- Iremos saber, os carros estão chegando, há movimento pelos corredores.
O relefonou tocou, era da recepção:
- Doutora Júlia, estão jornalistas na recepção pedindo para serem recebidos.
- Senhor Jorge, quantos estão aí?
- Estão quatro.
- Diga-lhes que esperem, dentro de poucos minutos os receberemos - Júlia pousou o telefoene - Vês, Fernando, começa a reacção, estão qiuatro jornalistas na recepção! Paciência, hoje não almoçamos.
- Querida, talvez seja melhor recebê-los todos ao mesmo tempo, daqui a uns dez minutos para prepararmo o que lhes vamos dizer.
- Imaginemos as perguntas mais prováveis, o que é que nos irão perguntar...Podemos entregar-lhes o nosso último relatório de actividades, que achas?
- Boa ideia, vou pedir que nos consigam uma dúzia de cópias.
Júlia disse à secretária para encaminhar os jornalistas para a sala grande de reuniões. Para lá se dirigiu com Fernando, daí a poucos minutos.
Apresentaram-se aos jornalistas, ambos pegando num folheto igual aos que haviam distribuido por toda a cidade.
- Antes que nos façam perguntas, completaremos o que irão ler neste panfleto, dando-vos o relatório da actividade desta fundação, relativo ao ano passado. Depois de respondermos às vosssas perguntas, iremos até às fábricas e aos pontos de venda. É um pouco tarde, pelo que vos peço que adiem a leitura do relatório para quando regressarem a Lisboa.
Um dos jornalistas levantou o braço:
- Que resposta esperam do governo perante o vosso protesto?
- O governo ainda não decretou a nacionalização desta fundaão, portanto não protestaremos. Reparem qaue este folheto não é uim protesto, apenas diz o que é esta fundação e que actividade exerce junto do pôvo. Se a nacionalização fôr decidida, o que duvidamos, aí sim, protestaremos! - respondeu Fernando.
Outro jornalista inquiriu:
- Esta fundação não ultrapassou muito os objectivos para que foi criada, erigindo fábricas, explorando lojas comerciais e restaurantes, talvez numa concorrência desleal?
- Criar centenas de empregos, produzir bens essenciais vendendo-os com pequenos lucros que irão ser aplicados, na totallidade, nas actividades da fundação, isto será concorrência desleal?
- Mas a vossa actividade não deveria restringir-se às ofertas aos beneficiados, dado que os estatutos genéricos para as fundações não incluem fábricas nem lojas?
- Também não obrigam a não incluí-las! Imaginam o que sucederia ou sucederá se esta fundação for nacionalizada? Primeiro cria-se um grave precedente e, segundo, as fábricas e as lojas sertão vendidas. Pouco tempo depois cessará a distribuição de dádivas aos necessitados.
Um jornalista que ainda não se manifestara, indagou:
- A actividade desta fundação abrangerá outras zonas? - Fernando respondeu:
- Abrangerá. Noutras províncias do nosso país. E em França, onde um projecto duma fundação similar está aprovado. Para lá, iremos, nacionalizem ou não a FAP. Agora peço-vos, por favor não nos façam mais perguntas antes de visitarmos as fábricas.
LXII
Os acontecimentos precipitaram-se. Foram pedidos esclarecimentos na assembleia da república, fora da ordem do dia. Alegando desconhecimenhto. o partido do governo evitou
qualquer resposta. Mas a oposição insistiu apresentando uma proposta inédita, de recusa de nacionalização da FAP. O presidente da assembleia não aceitou a proposta, argumentando que não se poderia votar contra uma nacionalizaçao ainda não proposta nem executada. Lavou as mãos, dizendo que teria de se psosseguir com a ordem de trabalhos do dia, encerrando o assunto desta forma.
Os jormalistas deram a notjícia em grandes parangonas, exibindo uns, o folheto espalhado pela cidade, outros relatando entrevistas a beneficiados e colaboradores, quase todas com fotos das fábricas e pontos de venda. Aguns. à cautela, publicavam opiniões negativas ou comentários reticentes quanto à legalidade do comércio e das indústrias que a FAP erigira. Outra notícia nos telejornais das estações de televisão, relatava o resultado dum inquérito efectuado pela empresa de sondagens com maior credibilidade no país. Resultado: mais de 80% dos inquiridos responderam que não concordavam com a nacionalização da FAP.
Foi impresso outro folheto contendo mais uma terceira frase, informando que a FAO projectava iniciar dentro de dois meses a sua actividade noutras zonas de Portugal, establecendo a primeira sucursal no Minho. Um automóvel da FAP tranportou para o norte cinquenta mil exemplares, agora impressos por uma tipografia que a FAP contratara.
(continua)
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