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sábado, 14 de janeiro de 2012

Sonho de sorte - 5

II
Fernando Garcia, nascido em Évora em Março de 1968, alto, magro, espadaúdo, cabelo negro, barba densa, bem escanhoada, sobrancelhas negras e espessas, olhos muito vivos, castanhos. De vestir sòbrio, casaco e calças azuis escuras ou beges, camisas de cores claras, sem floreados. Envergava gravata por força da etiqueta ou em ocasiões muito especiais. Nos dias agrestes, vestia um sobretudo curto, por vezes um cachecol com duas voltas ao pescoço, nunca luvas ou chapéu. Engenheiro civil trabalhando numa fábrica de acessórios de automóvel, vivia em Lisboa num bairro junto ao Jardim da Estrela, numa vivenda antiga de cuja traseira se avistava um "ficus" gigante e dois jacarandás que disputavam o sol a uma araucária orgulhosa, no jardim bem cuidado de um vizinho. Lá em baixo, o Tejo.
Passara os anos de infância naquela pacata cidade do Alto Alentejo. Frequentou uma escola primária dirigida pelo proprietário, que se ocupava dos filhos mais velhos, nas terceira e quarta classe. A filha, conhecida e tratada como a menina Graciete, ensinava a primeira e segunda classes, aos miúdos mais novos. A mãe, dava aulas de piano. Esta senhora submetia todos os novos alunos das famílias mais abastadas, a uma prova de capacidade para o piano. De forma sistemática, comunicava aos pais que os filhos tinham muito "bom ouvido", conseguindo assim mais uns parcos cobres com o ensino da música. O rendimento da escola era escasso, o pai da Graciete nunca recusava a admissão dum aluno pobre. Dizia aos amigos: "todos têm a mesma capacidade à nascença, entre os mais pobres pode haver um génio". Pelo que poucos pais pagavam de forma regular as mensalidades devidas à escola. Fernando não escapou ao teste da mãe de Graciete, ainda aprendeu algum solfejo e pedaços de obras musicais, o "Danúbio azul" e outras de dificuldade semelhante.

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